Maria Pinho de Castro, uma dama no cinema

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“Parabéns à D. Maria Pinho de Castro, progressista que tem sabido vencer palmo a palmo todas as dificuldades, para nos apresentar coisa eficiente que honra Caetité, e satisfaz francamente às exigências do meio. Que todos visitem o Cine Vitória para experimentarem momentos de grande prazer, num âmbito da sã moralidade e respeito.” (Jornal O dever 18/06/1958 APMC)

1919

Nasce no dia 16 de maio, em Caculé- Bahia, Maria Pinho de Castro, filha de Francisco Pinho e Benícia da Silva Pinho. Seu pai era um próspero lojista e fazendeiro.  Maria era a filha mais velha de 8 irmãos. Passou toda sua infância em Caculé, onde fez os cursos infantil e primário.

1934

Aos 15 anos foi estudar em Caetité-Bahia, onde concluiu o curso Normal, e também conheceu o seu grande amor e futuro marido Guilherme Brandão de Castro. Guilherme era descendente da vasta família dos Castro, era filho de Antônio Pereira de Castro (Totó) e Maria Amélia Brandão de Castro.

1939

Após algum tempo de namoro e noivado, casaram-se no dia 02 de junho, em sua terra natal Caculé, ele com 26 anos e ela com 20 anos.  Fixaram residência em Caetité onde nasceram os 7 filhos do casal.

1945

Seu esposo, Guilherme de Castro, transforma o Teatro Centenário num Cine-Teatro em sociedade com um certo Capitão Mesquita, numa combinação acertada com a prefeitura e com as facilidades empresariais na capital, é inaugurando com o nome de “Cine Vitória.”

1950

Maria Pinho perde seu esposo, Guilherme ,  num acidente aéreo, no dia  11 de setembro, em Bom Jesus da Lapa, quando  pilotava o seu avião em campanha política do seu correligionário, candidato a governador do estado da Bahia naquele ano eleitoral, Lauro Ferani de Freitas. Ficando então viúva com 7 filhos menores e grávida do 8º, que vem a perder, em decorrência do choque pela trágica morte do esposo.  

O Corpo de Guilherme foi velado em Câmara ardente (cerimonial fúnebre) na sede do “Aeroclube”, na praça da catedral, sob forte comoção.  

Maria Pinho com a ajuda do seu irmão mais novo (Walter Pinho) na educação dos filhos, assumiu todos os empreendimentos deixados pelo esposo.

1951

Os dois filhos mais velhos, Marcílio e Maria Antonieta (Niêta) vão para capital prosseguirem com os estudos. Ele  interno do Colégio Antônio Vieira e ela, interna do Colégio das Sacramentinas. A família transfere residência para Praça da Catedral nº 3.(inserir a foto da casa). 

Os políticos da época (UDN), adversários políticos do falecido marido (PSD), rompem o contrato com o Cine Vitória e, manda recado para a viúva Maria Pinho de Castro, que retirassem imediatamente os equipamentos do cinema que funcionavam no Teatro. Eram poltronas, tela, o conjunto motor-gerador e os aparelhos projetores de 35 mm. 

Tristemente foram colocadas em Praça Pública as poltronas do cinema. A viúva com ajuda de familiares, providencia um local apropriado para guardar as poltronas.

Assim, triste e melancolicamente, dá-se o fim da 1a. Era do Cine Vitória.

1952

Maria Pinho dá continuidade, com muito esforço, à empresa que geria os negócios do marido  sob o nome de  “Viúva Guilherme de Castro”.

1953

Adquire na Rua Barão de Caetité um antigo casarão  (inserir a foto do local)  e  constrói a sede própria do “Novo Cine Vitória”.

1954

É inaugurado na Rua Barão de Caetité o Novo Cine Vitória! Sucesso Total! Prédio próprio, um salão com capacidade para 380 espectadores. Cerca de 200 pessoas o frequentavam diariamente.  os filmes iam de trem até Brumado e de lá para Caetité   através dos caminhões de carga e ônibus.  E o cinema exibia um inédito a cada dia.    

Neste ano, nos Estados Unidos  é inaugurado  uma grande novidade   na cinematografia,  o cinemaScope.  O CinemaScope foi uma tecnologia de filmagem e projeção que utilizava lentes anamórficas criada pelo presidente da Twentieth Century Fox

1956

No dia 09 de janeiro um  Festival é  exibido no cine Vitória  em prol ao plano de remodelação do Aero Clube.

1957

O Teatro Centenário volta a ser cinema. Com o apoio dos  mandatários políticos da cidade, um comerciante milionário local, conhecido como Sr. Zuza,  concorrente da viúva nas atividades comerciais, instala outra sala de cinema, o “Cine Caetité”. Caetité passa a ter 2 opções de lazer cinematográficas.  

O Cine Vitória interrompe suas atividades para reformas e adaptação para receber as novas tecnologias do cinema, tendo suas  obras civis  finalizadas,  é reinaugurado no dia 22 de setembro, ainda sem o cinemascope.

1958

Com a chegada dos novos equipamentos,  técnicos e especialista para montagem do novo sistema, em 5 de maio é inaugurado o CINEMASCOPE no Cine Vitória  com o Filme “A viúva negra”. 

Em agosto deste ano ocorre o trágico acidente de Maria Antonieta, filha mais velha de D. Maria Pinho, em Salvador Bahia, quando um lotação perde o freio na Av. Princesa Leopoldina colidindo contra um poste. A estudante apavorada salta do ônibus, batendo com a cabeça na calçada, provocando um grave traumatismo craniano. D Maria Pinho parte para capital, para acompanhar a filha, onde permanece  por  longo tempo, deixando seus filhos mais novos aos cuidados de parentes e amigos em Caetité.

O caso “Nieta” abala a cidade de Caetité e Salvador,  noticiado pela imprensa baiana e veículos de comunicação nacional como a revista O Cruzeiro, que publicou uma longa reportagem sobre o fato. A população, comovida, junto aos familiares, pedia  em fervorosas orações pela vida da estudante.

1959

Em março morre  Maria Antonieta,  em Salvador, depois de 7 meses em estado de coma. Com a morte de Niêta, em março de 1959,   seu filho Marcílio retorna à  Caetité,   indo trabalhar no Banco do Brasil e junto a  Marcelo, seu irmão,  passaram a  administrar o Cine Vitória. As irmãs  Maria Solange  e Maria Lígia vão dar continuidade aos estudos em Salvador e no Rio de Janeiro.

Neste ano uma longa  pane elétrica,  em Caetité,  coloca a cidade as escuras por  100 dias, o  cinema  fecha  por 3 meses;  D. Maria Pinho resolve então,  adquirir um grupo gerador  próprio garantindo a continuidade do seu cinema.

1963

Seu filho caçula, Marcelo decide  partir  para Salvador e seguir  carreira de arquiteto,  seguindo as   irmãs que  já haviam partido anteriormente. 

1965

Maria Amélia vai estudar em Curitiba,  retornando à Salvador um ano depois para prestar  vestibular. Com as saída das filhas e  do filho Marcelo,  D.  Maria Pinho, já desmotivada e sozinha, resolve acompanhar os filhos Márcia e Marcílio e parte,  definitivamente, de Caetité rumo ao Rio de Janeiro onde permanece por alguns anos.

Ao passar uma férias em S. Paulo com sua caçula Maria Márcia, que trabalhava na Transbrasil,  D. Maria Pinho cai de amores pela cidade, onde permanece por 10 anos.  Ao retornar à  Salvador  reside  com sua filha Márcia até o final da sua vida.

E o cinema??
O cinema foi vendido e nas mãos dos novos donos funcionou  um pouco mais de dois anos, dando lugar a uma grande magazine (loja de departamento), pondo fim à vida Gloriosa do Cine Vitória, deixando grandes Saudades.

2012

No dia 30 de outubro, após perder seus 2 filhos queridos, Marcilio e Marcelo o coração desta Mulher Guerreira e forte não aguentou e veio falecer aos 93 anos.

Sempre muita lúcida, independente, vaidosa e determinada, essa foi Maria Pinho de Castro

Fontes:

CASTRO, Maria Amélia. Biografia de Maria Pinho

CASTRO, Marcelo. “Um Cinema Chamado Cine Vitória”. Crônicas da Vida Real Bahia, Maio de 2007.

ALMEIDA, Norma Silveira Castro & TANAJURA, Amanda Rodrigues Lima. José Antônio da Silva Castro,  O Periquitão.   2ª Edição, Salvador: EGBA, 2004

Jornal “O Dever” APMC

Jornal “O Caetité” APMC

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